UFU 2023/2 - No livro O segundo sexo, a filósofa Simone de Beauvoir desenvolve um pensamento de cunho existencialista sobre o que se construiu historicamente como uma “essência do feminino”, distinguindo o que seria natural à mulher, por oposição ao que é associado ao homem. A partir disso, explique
A) como a filósofa entende a construção dessa “essência do feminino”.
B) como se caracteriza a orientação existencialista da filósofa frente a essa construção.
RESPOSTA:
A) Em “O segundo sexo”, Simone de Beauvoir afirma que sempre houve mulheres, de modo que é um desenvolvimento histórico que explica sua existência como classe e mostra a distribuição desses indivíduos dentro dela. A História nos mostra, portanto, que os homens sempre detiveram todos os poderes concretos, desde os primeiros tempos do patriarcado, de modo que julgaram útil manter a mulher em estado de dependência e seus códigos estabeleceram-se contra ela, constituindo uma narrativa de inferioridade baseada em o que seria natural à mulher. Desta maneira, a mulher se constituiu concretamente como o Outro, o não homem, seu oposto em habilidades e funções. Esta condição servia aos interesses dos homens, mas convinha também a suas pretensões ontológicas e morais, pois desde que o sujeito busque afirmar-se, o Outro, que o limita e nega, é-lhe, entretanto, necessário, já que ele só se atinge através dessa realidade que ele não é. Assim, a naturalização da condição feminina serviu para perpetuar as relações de poder desiguais entre homens e mulheres.
B) O existencialismo é uma corrente filosófica que postula que o indivíduo não apresenta uma essência que o pré-determina socialmente. Sendo assim, o ser humano é o resultado de suas escolhas e decisões, cabendo somente a ele a responsabilidade de seus atos e a liberdade de sua existência. Deste modo, se a existência precede a essência, o determinismo, relacionado a certas características ditas inatas ou naturais, atrelado à mulher por uma vinculação entre a condição histórica e a concepção ontológica não pode ser mantido. Ao se basear na ideia de que não é a essência, mas a existência o que determina a concepção de mulher e de feminino, é equivocado afirmar que as mulheres são menos capacitadas do que os homens simplesmente por serem mulheres. O que é observado, em muitos casos, é que não foram dadas a elas as mesmas oportunidades e condições das quais os homens se beneficiaram. A máxima de que a mulher é o sexo frágil é compreendida, portanto, se situarmos a figura feminina dentro de um universo de costumes, ideologias dominantes, educação familiar e escolar, no qual ela foi moldada para se constituir em oposição ao sujeito masculino sem que tome decisões por si mesma. Para Beauvoir, a liberdade da mulher para tornar-se vem do reconhecimento dessas narrativas manipuladas, para que seja possível escapar dessa condição e determinar o seu próprio destino.
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